Cidades
Publicado em 10/05/2009
Luiz Gustavo Schmitt
Apesar de inevitável, o assoreamento de baías, rios e lagoas – que ocorre naturalmente em uma escala de milhares de anos – está sendo acelerado na Baía de Guanabara dez vezes mais rápido do que ocorreria em um processo natural. Nas últimas décadas, cerca de 62 quilômetros quadrados desapareceram, a exemplo do litoral de São Gonçalo. Em cem anos, um terço das águas deve sumir e em mais cem outro terço pode ter o mesmo destino. Se nada for feito, o prognóstico mais otimista indica que a vida da Baía de Guanabara seria reduzida de três mil para 300 anos, restando apenas o canal central, que fica entre Paquetá e a entrada da Baía.
Essas informações foram coletadas ao longo de décadas de pesquisa pelo ambientalista e professor aposentado do Instituto de Geociências da UFRJ, Elmo Amador, referência quando o assunto é Baía de Guanabara.
"Na prática os dados mostram que diversas localidades já apresentam estes sinais de assoreamento, como o litoral de São Gonçalo; a Área de Proteção Ambiental de Guapimirim; os litorais de Itaboraí e Magé, entre outras. O assoreamento natural é de 22 centímetros por século ou 0,2 centímetros por ano. Entretanto, o assoreamento anual fica em média em dois centímetros por ano, sendo que em alguns trechos mais críticos, como em São Gonçalo, pode chegar até cinco centímetros. O normal seria que essa redução fosse de 0,2 centímetros por ano, possibilitando à Baía de Guanabara uma vida útil de mais três mil anos", explicou o professor.
Segundo Amador, toda essa degradação ambiental é consequência do despejo de uma mistura de 80 toneladas de lixo e quatro milhões de toneladas de sedimentos anualmente – esses, por sua vez, chegam através dos rios ou são jogados diretamente pela população.
"O assoreamento é acelerado por inúmeros motivos. O esgoto jogado sem tratamento, por exemplo, aumenta a proliferação de algas, que acabam se transformando em sedimento e se acumulando no fundo da Baía de Guanabara", observou.
Pescadores lamentam
Navegando pelas águas translúcidas da Baía, os portugueses olharam a bela paisagem e, achando que se tratava de um rio, batizaram a cidade com o nome de Rio de Janeiro. Apesar do valor histórico e dos outros inúmeros predicados da Baía, os navegadores de hoje flutuam sobre lixo.
"A pesca é muito prejudicada com isso. O fundo da Baía está cheio de lixo. Tem certos lugares que não dá para largar rede de tanto lixo que tem. O problema é que não há praticamente fiscalização. O próprio Ministério do Meio Ambiente continua dando licenças para que seja feito o desvio do curso dos rios, muitos deles que já estão assoreados", disse o presidente da colônia de pescadores Z-8 (Jurujuba), Gilberto Alves.
Pescador há 25 anos, Jonito Alves contou que não vale mais a pena pescar na Baía de Guanabara.
"A gente tem de ir até o alto mar, para encontrar peixe. O problema é que as prefeituras não fazem coleta seletiva e o resultado é que o lixo acaba indo parar no fundo da Baía", disse.
Impacto econômico e social
Segundo o professor Elmo Amador, o impacto maior do assoreamento não é somente ambiental, mas também econômico e social. As soluções apontadas pelo professor passariam por muita vontade política, o que não aconteceu até hoje, e pela criação de um plano diretor para controlar o assoreamento.
"Seria necessário fazer um plano para prever o controle de obras impactantes como dragagens, combater o desmatamento, além de promover ações de reflorestamento ecológico nas margens e também ao longo dos rios afluentes, que eram mais de 50 e quase todos tiveram seus cursos desviados", disse Amador, para ainda concluir:
"Além do risco de desaparecimento da Baía, temos problemas econômicos e sociais que ocorrem. A atividade de pesca, da qual muitas famílias dependem para sobreviver, tem sido muito prejudicada. Há muitos pontos da Baía em que não é possível pescar mais. Outro aspecto é o alto custo das obras de dragagens que envolvem investimentos altos por parte dos portos e estaleiros. Se contabilizássemos isso encontraríamos a cifra de bilhões de reais. A título de exemplificação, a dragagem do canal do Fundão irá custar R$ 200 milhões e, caso seja feita, a dragagem para a construção da estação didroviária de São Gonçalo custaria R$ 40 milhões".
Construção de eco-barreiras
Questionada sobre possíveis soluções para resolver o problema do assoreamento, durante audiência pública na Câmara dos Vereadores de São Gonçalo, no dia 30 de abril, a secretária estadual do Meio Ambiente, Marilena Ramos, reconheceu ser difícil de se recuperar as áreas degradadas e informou que uma das alternativas é a construção de eco-barreiras (reflorestamento) nas margens da Baía.
"Seria um ato insano dragar as áreas de São Gonçalo já assoreadas. O que fazemos é construir eco-barreira para minimizar os efeitos do assoreamento", disse a secretária, que ainda confirmou não ter nenhum projeto para reverter o processo de assoreamento das áreas já degradadas.
O Fluminense
segunda-feira, 25 de maio de 2009
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Um comentário:
Muito legal o blog! Você teria o contato do professor Elmo? Gostaria de falar com ele para uma matéria.
qualquer coisa, eis o meu email:
bruno.quintella@tvglobo.com.br
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