segunda-feira, 25 de maio de 2009

Após dois anos, assassinato de psicóloga continua sem solução

Polícia

Publicado em 11/04/2009



Luiz Gustavo Schmitt, Sérgio Jardim e Fábio Resende




Mais uma vez os pais da psicóloga Viviane de Castro, de 24 anos, o técnico em eletrônica Vanderlei Miranda, de 56, e a aposentada Lucia Helena de Castro, de 50, passarão a Páscoa sem um esclarecimento sobre o assassinato da moça, morta em 4 de abril de 2007, com um tiro na cabeça, em uma sala da Igreja Matriz Sagrados Corações, na Ponta da Areia, em Niterói.

Após completar dois anos na semana passada, o assassinato da psicóloga, que era carinhosamente chamada de "Vivi" pelos pais, ainda não foi solucionado. Segundo informações do Tribunal de Justiça (TJ), o caso continua em fase de inquérito, aguardando análises das provas técnicas do crime. De acordo com a 3ª Vara Criminal de Niterói, o ex-namorado da vítima, o estudante, F.M.P, de 25 anos, que teria tido com ela uma relação conflituosa, é o principal suspeito de ter cometido o crime.

As imagens do circuito interno de TV do prédio do jovem, na Rua Ary Parreiras, em Icaraí, serão decisivas para o Ministério Público oferecer denúncia contra ele. Segundo a Justiça, quatro fitas fazem parte das investigações e irão definir o horário em que F. entrou e saiu de casa no dia do crime.


Sigilo - O promotor Alexandre Joppert já havia pedido a quebra do sigilo do correio eletrônico da vítima e do celular de F. Em 6 de abril de 2007, o rapaz teve a prisão decretada pela Justiça e chegou a ficar detido durante 60 dias na extinta carceragem da 76ª DP (Centro).

O acusado, porém, está em liberdade desde 29 de maio de 2007, quando o desembargador da 2ª Câmara Criminal, Adilson Vieira Macabu, concedeu habeas corpus, alegando que não havia motivos para a permanência do rapaz na cadeia.

A advogada da família da vítima, que representa a ONG Mulheres de São Gonçalo, Mariana Vieira, disse estranhar a demora no andamento do caso.

"O tempo de análise já passou do normal. O relatório policial já foi concluído e aponta a autoria do crime para o F. O Ministério Público ainda não apresentou a denúncia, o que me faz crer que estejam aguardando a liberação dos laudos da perícia. Espero que haja alguma definição ainda neste primeiro semestre", comenta.

De acordo com a advogada, desde o início do inquérito houve uma série de problemas com as provas.

"Primeiramente, houve um problema com a principal testemunha do caso, o padre da igreja, que na verdade é monsenhor. Os depoimentos dele foram extremamente conflituosos, com uma postura defensiva, e não foram suficientes para esclarecer nada", contou a advogada, que ainda prosseguiu.

"No local do crime não havia sinal de luta. O dinheiro e os pertences de Viviane não foram subtraídos. Além disso, a trajetória da bala indica que a vítima foi atingida ao virar-se de costas. Ela vinha sofrendo constantes ameaças do ex-namorado pelo inconformismo com o término da relação. Tudo indica que o principal suspeito seja o F.", diz.

Quarto e objetos da vítima estão intocados

Na casa onde Viviane morava com os pais, no bairro Brasilândia, em São Gonçalo, pouca coisa mudou até hoje, depois do assassinato. A dor da família se traduz no ambiente da residência: retratos da vítima estão espalhados pelos cômodos. Até mesmo o quarto em que ela dormia ainda não foi mexido.

A Bíblia sobre o travesseiro da cama, as roupas no armário, ursinhos de pelúcia, livros e CDs continuam no mesmo lugar. Até a carteira da moça permanece intocada, com documentos, cartões de crédito, recibos de contas pagas e o dinheiro que guardava.

Com orgulho, Lucia Helena mostrou a tese de monografia de Viviane, cujo título era "Ninguém é louco porque quer: um estudo sobre a função materna na psicose".

"Ela tirou nota 10, era apaixonada pela Psicologia", disse.


Ciumento – Sobre a relação de Viviane com F., que durou cerca de quatro anos, Lucia contou que o namoro era tomado por ciúme e obsessão por parte do rapaz.

"O ciúme não era somente do sexo oposto, mas da família e dos amigos. Ele ligava para ela mais de dez vezes por dia. Queria saber que roupa estava vestindo, onde e com quem estava. Ela não tinha liberdade nem para ouvir as músicas que gostava. Mas mesmo assim, amava o rapaz. Às vezes, acho que ela queria usar o conhecimento de psicologia para tentar ajudá-lo", disse.

Lucia Helena se diz inconformada com a morosidade da Justiça.

"Queremos justiça! Não podemos aceitar que isso continue assim. "Minha família está desequilibrada. Emagreci uns 40 quilos. Acabei parando de trabalhar porque tive muitas crises. Estou sob tratamento psiquiátrico até hoje. O único lugar em que me sinto bem é o Parque da Paz (cemitério onde Viviane foi enterrada)", disse.

Os pais da vítima dizem não ter dúvida de que F. foi o autor do crime.

"Ele não aceitava o fim da relação. Poucos dias antes da morte dela, estava ligando querendo marcar um encontro para que conversassem. Falei com a Viviane que fosse no São Gonçalo Shopping, que é um lugar de movimento. Mas ele não aceitou", contou Lucia, que ainda concluiu.

"Eles acabaram marcando o encontro na igreja e deu no que deu. Por coincidência o dia do crime era o dia do aniversário dele. Foi tudo premeditado".

O pai, Vanderlei Miranda, se diz cansado.

"Nós acompanhamos o andamento do inquérito, mas você sabe como é?!", ironizou.




O Fluminense

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