quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Moradores do Mundel andam até Monjolos em busca de água potável

15/02/09

Luiz Gustavo Schmitt

A doméstica Ana Maria de Lima, de 47 anos, moradora do bairro do Mundel, tem de
andar quase diariamente cerca de um quilômetro até a casa de amigos, em
Monjolos, bairro próximo, para buscar água potável. Com um carrinho de mão,
cheio de garrafas Pet, ela ziguezagueia para desviar dos buracos e poças de
água e esgoto a céu aberto, na Rua Presidente Churchil, em frente a sua casa.

Para lavar roupas, louça e fazer a limpeza do pátio da casa a água do poço é
suficiente, explica Ana, enquanto iça o balde com água turva do poço artesiano
no quintal.

"Está suja e cheia de espuma. O esgoto das outras casas desce na direção da
minha. Mas o que fazer se é a única água que tenho?"

Ana conta que, em dias de chuva forte, a rua e o pátio de sua casa ficam
alagados.

"Isso aqui vira um pântano fedorento", desabafa.

Para o aposentado Ari Agripino da Silva, de 63, que é vizinho de Ana, a palavra
que retrata a situação do bairro é uma só: abandono.

"Estamos esquecidos", reclama. "Falta de água, de iluminação pública e de rede
de esgoto não é novidade. Esses problemas se arrastam há mais de dez anos.
Entra governo e sai governo e continua tudo igual", queixa-se.

Ari explica que para tentar resolver alguns problemas do bairro, os próprios
moradores se cotizam para comprar lâmpadas, consertar bueiros e buracos na rua.

"Cada um dá seu jeito. Para não ficar no escuro coloquei uma lâmpada no poste
em frente a minha casa. Os bueiros da rua também foram consertados pelos
moradores", afirma.

O motorista Amaro Carlos, de 49, morador da região há 26, também faz coro com
os vizinhos.

"Hoje (quarta-feira) isso aqui está bonito. Quando chove não é possível nem
mesmo reconhecer", diz, apontando para os buracos da rua.

Na Rua Cidade Lisboa, no mesmo bairro, verdadeiras crateras com lixo acumulado
atormentam a vida de moradores como o militar reformado Raul Figueiredo, de 49.

"Quando chove ninguém consegue andar por aqui. Antes passava ônibus. Hoje não
tem como", diz.

Figueiredo culpou as obras da Prefeitura de São Gonçalo, que estariam paradas,
e teriam deixado buracos e restos de entulho, o que pioraria ainda mais a
situação deixando um saldo de acúmulo de lixo, proliferação de ratos e focos de
dengue.

"Quando a obra foi inaugurada teve até festa de inauguração com a presença da
prefeita" relata Figueiredo.

Próximo dali há placas da Prefeitura de São Gonçalo informando que estariam
sendo feitas obras de dragagem e pavimentação.

Entretanto, moradores como a doméstica Osineide Clemente de Oliveira, de 33,
dizem que não têm visto nem sinal de trabalhadores no local há meses.

"Depois da eleição ninguém voltou mais. Na semana passada caiu até um carro no
buraco".

O líder comunitário Italvani Pereira da Silva, de 27, informa que já procurou a
Prefeitura, mas não teria recebido resposta a suas solicitações.

"Tentei muitas vezes. Mas não adianta nada", disse.

Sobre a falta de água no bairro de Mundel, a Companhia Estadual de Água e
Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae) disse que há problemas de ligações
clandestinas na região que prejudicam o abastecimento do bairro. A empresa
prometeu enviar uma equipe ao local para verificar os problemas citados na
reportagem.

Buracos nas ruas e galerias entupidas no Colubandê

Em algumas ruas do Colubandê, em São Gonçalo, os problemas se repetem: buracos
no asfalto e entupimento da rede de esgoto. De acordo com moradores, a situação
é pior na Avenida José Mendonça de Campos, onde as péssimas condições do
asfalto provocariam retenções no trânsito e atrapalhariam pedestres a
atravessar a via. O problema se agravaria em dias de chuva, quando as galerias
fluviais ficariam entupidas e transbordariam transformando o local em um rio de
esgoto, lama e lixo.

"Mal dá para andar na rua, além do mau cheiro insuportável, o trânsito também
fica congestionado, refletindo até mesmo no tráfego da Rodovia Amaral Peixoto",
protesta o vigia, Luis Coutinho, de 55 anos.

O comerciante João Duarte, de 42, informa que o comércio também tem sido
atingido.

"Nesses dias, não há movimento. Fica impossível de andar por aqui. O pior é que
a coleta de lixo não é feita regularmente e o sistema de esgoto acaba não
resistindo", diz João.

O açougueiro Elizeu Santos, de 37 anos, lembra que mesmo com todos esses
problemas e dificuldades, cobranças de impostos continuam chegando.

"As tarifas estão cada vez mais altas", reclama.

A Prefeitura de São Gonçalo informou que está em atividade uma operação "Tapa-
Buraco" para sanar os problemas causados pelas últimas chuvas no município.

"Cerca de 30 homens dos Departamentos de Conservação e Obras já estão nas ruas
realizando as intervenções e a previsão é de que esta operação dure cerca de
dois meses. Os primeiros locais a receber a operação são os principais
corredores viários da cidade: de Neves ao Alcântara e da Venda da Cruz ao
Jardim Alcântara. Posteriormente, outros pontos do município vão receber a
operação", informa a Prefeitura.

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