quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Em entrevista, diretor do Huap diz que emergência é atribuição do município

Luiz Gustavo Schmitt

Irritado com acusações de que a emergência do Hospital Universitário Antônio
Pedro (Huap), no Centro, estaria fechada há mais de um ano, o diretor Tarcísio
Rivello – cirurgião vascular que está à frente do hospital desde dezembro de
2006 - abriu as portas para o OFLUMINENSE, na última quarta-feira. Rivello fez
questão de mostrar pessoalmente o funcionamento da emergência, que atenderia
uma média de 150 pacientes diários e segundo ele, está "referenciada" – ou
seja, atende pacientes que vêm por meio da Central de Regulação, do Samu e do
Corpo de Bombeiros. Durante a visita à unidade, a reportagem constatou que os
setores da emergência estavam funcionando, mas como nem tudo são flores, também
encontrou instalações em mau estado de conservação e alguns pacientes no
corredor. Rivello se disse incomodado com pessoas à espera de atendimento nos
corredores. "É desumano. Mas o que posso fazer? A situação aqui chegou a um
ponto que até os funcionários estão cansados. E todo mundo sabe disso, até
mesmo o Ministério Público". Ele reconheceu que o atendimento aos pacientes
está aquém do esperado, mas justificou que o orçamento de cerca de R$ 2 milhões
ao mês é insuficiente. Além disso, afirmou que faltam profissionais em diversas
áreas e seria preciso abrir concurso público, o que ainda depende de
autorização do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, segundo Rivello.

FLUMINENSE – É verdade que a emergência do Huap está fechada há mais de um ano?

Tarcísio Rivello – É uma inverdade dizer isso. Nunca esteve fechada. Está
referenciada. Isto significa que atendemos pacientes que vêm da Central de
Regulação – rede municipal -, do Corpo de Bombeiros e do Samu. Não estamos
atendendo ‘demandas espontâneas’, ou seja, só são atendidos pacientes que
chegam aqui por esses três meios.


O FLU – Se alguém sofrer um acidente sério na rua e for levado por parentes às
pressas ao Huap, não receberá atendimento por ser uma "demanda espontânea"?

Rivello – O ideal é não atender. Caso atendesse não seria um atendimento pleno.
Como disse, não posso atender demandas espontâneas. Isso não é o perfil de
atendimento de um hospital universitário. Hoje, a referência do trauma é
Hospital Estadual Azevedo Lima (Fonseca). Nem tudo pode ficar sob
responsabilidade do Huap. É preciso entender que existe uma rede de saúde
municipal, estadual e federal. Estamos na Rede Metropolitana II que compreende
os municípios de Niterói, São Gonçalo, Maricá, Itaboraí, Silva Jardim, Tanguá e
Rio Bonito.


O FLU – E qual é o perfil de um hospital universitário?

Rivello – É o atendimento de patologias raras, que requerem aspectos mais
complexos. Como por exemplo, tipos variados de câncer, doenças neurológicas e
cardiológicas e etc. Temos que adaptar a emergência à capacidade instalada e ao
perfil da unidade de alta complexidade. Usar o Huap é uma arte política e não
exploratória.

O FLU – Quando alguém sofre um acidente ou tem algum problema de saúde grave em
Niterói, a primeira reação é levar ao Huap, que sempre foi o hospital de
referência para atendimento de emergência no município. No entanto, parece que
de repente deixou de ser. Qual a explicação para isso?

Rivello – O Hospital Universitário Antônio Pedro foi inaugurado em 1951. Na
época era o grande hospital de emergência e maternidade de Niterói. A partir
dos anos 1960, foi federalizado e passou a pertencer à Universidade Federal
Fluminense (UFF), mas ainda continuou funcionando como um grande pronto-
socorro. Mas o município cresceu e o hospital passou a não comportar mais toda
demanda que recebia. O problema não é nem mesmo a emergência, mas o que faço
com o paciente depois dele se tratar. Onde vou colocar? No corredor?


O FLU – Há alguma solução para o problema das emergências dos hospitais na
cidade?

Rivello – Cada secretário de Saúde dos municípios da Rede Metropolitana II tem
que fazer com que sua rede funcione para atender doenças de menor complexidade.
Só que fazem muito pouco. Para se ter o atendimento do jeito que a população
quer, seria preciso ter um hospital de emergência. Assim como ocorre com
Hospital Azevedo Lima (Heal). Emergência é atribuição do município.


O FLU – O senhor espera alguma mudança de postura no que diz respeito ao novo
governo municipal de Niterói?

Rivello – Conheço o secretário de Saúde, Alkamir Issa, e estou confiante que a
situação melhore. Ele é da classe médica, conhece os problemas de Niterói e
sabe o que ocorre com o Huap. Espero que possa ajudar.


O FLU – O Orçamento do Huap é insuficiente?

Rivello – Recebemos entre R$ 1,8 milhão e R$ 2 milhões do Fundo Nacional de
Saúde, órgão vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Esta verba é repassada
através do contrato de interveniência da Secretaria Municipal de Saúde. O
ideal, para que as coisas funcionassem bem, seria receber em torno de R$ 3
milhões.


O FLU – Como são gastos esses cerca de R$ 2 milhões? Basta andar pelo hospital
para ver que precisa urgente de reparos e investimentos.

Rivello – Temos uma folha de pagamento que não deveria estar conosco. Gastamos
cerca de R$ 850 mil por mês com funcionários de contrato temporário – eles
respondem por 50% do nosso quadro, entre médicos, enfermeiros e técnicos. Isso
onera muito. Essa verba é de custeio do hospital, ou seja deveria ser gasta com
investimentos, insumos, manutenção e conservação, entre outros.


O FLU – O Ministério Público do Trabalho deve ajuizar, em conjunto com o
Ministério Público Federal, uma ação contra o governo federal para obrigá-lo a
repassar verbas destinadas à criação de cargos públicos no Huap. O senhor acha
que isso pode ser uma forma de resolver os problemas?

Rivello – A ação civil pública, com a realização de concursos, serviria para
desonerar a folha de pagamento, que passaria à responsabilidade do MEC. Por
enquanto, para realizarmos um concurso dependemos do Ministério do Planejamento
abrir vagas. É uma iniciativa bem-vinda até porque aqui há carência de recursos
humanos: médicos, enfermeiros, funcionários das áreas administrativas
envolvidos com o hospital. Muitos de nossos funcionários têm contrato de um ano
e não são motivados a trabalhar.




O Fluminense

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