sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Setor habitacional reconhece crise mundial, mas aposta no negócio

Luiz Gustavo Schmitt

O boom do mercado imobiliário fluminense, que há poucos dias parecia interminável, agora é colocado em cheque diante da crise financeira internacional. Muitas empresas do ramo têm capital aberto e viram suas ações caírem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O resultado é que agora há menos dinheiro em caixa para investir.

Embora as vendas dos lançamentos continuem fortes e muitas imobiliárias e construtoras se mostrem confiantes com os bons resultados dos últimos anos, a expectativa de uma retração do mercado é real. Foi o que afirmou o presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Joaquim Andrade.

"O imóvel é um ativo real e em qualquer lugar do mundo é o investimento mais seguro. Apesar disso, não há como negar que vai haver uma retração no setor. A rigor, o impacto nas vendas ainda não foi sentido. No entanto, quem não comprou terreno, não irá comprar agora, assim como quem não comprou apartamento está pensando duas vezes", opinou Joaquim Andrade, para completar:

"Ainda não se sabe a extensão da crise, mas é uma crise de confiança. O País como um todo irá sentir e o mercado da construção civil também. A Caixa Econômica Federal, que é principal financiadora, ainda não mudou as linhas de crédito e as taxas de juros, mas com certeza isso vai ocorrer".

Ainda de acordo com ele, a palavra de ordem agora para as empresas do setor de construção civil é cautela.

"Estávamos sinalizando construir nos municípios de São Gonçalo e Itaboraí, para um público que depende exclusivamente das condições de crédito. Neste caso, não se sabe mais o que irá acontecer. Este mercado só existe porque há crédito. Mas agora, há que se esperar para saber se o crédito vai continuar", disse.


Seguro – Segundo o diretor comercial da imobiliária Julio Bogoricin, Otávio Brito, o setor não sente ainda os efeitos da crise. Ele ressaltou que as vendas continuam em alta e o prazo dos financiamentos permanece o mesmo.

"Está provado que, ao longo dos anos, com as sucessivas mudanças de governo e de política monetária, os imóveis continuam sendo um investimento seguro. Nas épocas em que houve confisco, como no Governo Collor, quem teve imóvel não perdeu", afirmou Brito.

Ele ainda prosseguiu enaltecendo a segurança das operações do mercado imobiliário brasileiro:

"Ao contrários dos Estados Unidos, aqui no Brasil os bancos sempre foram muito criteriosos para conceder crédito. Em algum momento defendeu-se até uma maior flexibilidade por parte dos banqueiros brasileiros, mas hoje vemos que isso foi o que garantiu e protegeu o mercado da irresponsabilidade que ocorreu nos Estados Unidos ", disse Brito.


Oportunidade – Para o diretor da Rubem Vasconcelos Imóveis, Rubem Vasconcelos, o abalo no mercado global pode ser visto também como uma oportunidade de negócios.

"As pessoas têm que observar que toda crise gera oportunidades. A cultura brasileira é uma cultura patrimonial. Sempre quem teve dinheiro neste País foi quem possuía imóvel. Os portugueses e os judeus, por exemplo. O imóvel sempre foi um porto seguro para esses momentos agudos de crise", afirmou.

O diretor da imobiliária Francisco Egito, Francisco Egito, crê que as medidas econômicas vão dar conta da crise financeira e não deverá haver impacto nos negócios do setor imobiliário.

"Crescemos impulsionados pelo déficit habitacional brasileiro. Muitos dos clientes estão comprando o primeiro imóvel, portanto, é uma necessidade. O ano de 2008 foi o melhor para o mercado desde que comecei no ramo, em 1994. A tendência é que, nos próximos 20 anos, o número de unidades habitacionais, assim como o crédito habitacional, cresça no Brasil. Pode até haver um freio na corrida aos imóveis; mas uma retração, não acredito", disse Egito.

Secovi está otimista

De acordo com o presidente do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-Rio), Pedro Wähmann, o mercado de locação e administração de imóveis tem mostrado crescimento nos últimos anos. Mesmo diante do cenário de pessimismo global em relação à economia, o setor ainda deve colher alguns frutos do aquecimento da construção civil alcançado nos últimos três anos, com a entrega dos imóveis lançados durante este período. Por um lado, isso vai gerar mais condomínios a serem administrados, e de outro, haverá aumento da oferta para locação, que segue tendência positiva.

"O investimento em imóveis foi muito desacreditado, mas hoje, quem comprou um imóvel tem tido bom rendimento, além de haver sentido uma valorização que vem acontecendo em todo o País", destaca Wähmann.

Segundo o presidente do Secovi-Rio, o sindicato ainda defende a redução da alíquota do Imposto de Renda (IR) para quem aplica em imóveis para a locação, que é de 27,5%, enquanto quem aplica em fundos financeiros paga 15% por 30 meses.

Vale destacar que, dependendo do local e do tipo de imóvel, a rentabilidade com aluguel pode chegar a 1,2%. É o caso, por exemplo, de salas comerciais no Centro do Rio. E ao que tudo indica, a tendência da locação é seguir em alta, pois nota-se nas grandes capitais redução de oferta de imóvel para aluguel, em alguns casos superior a 50%.

"O mercado de locação ainda é um porto seguro para os investidores – frisa Wähmann. Toda vez que vemos uma crise financeira é normal haver uma procura maior por imóveis", concluiu.




O Fluminense

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