domingo, 27 de abril de 2008

Alimentos estão mais caros para consumidor

Luiz Gustavo Schmitt

Os alimentos estão mais caros. Preços de itens como feijão, massas e pão estão pesando no orçamento do consumidor. De acordo com a Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), o preço do feijão mais que dobrou, com alta de 113,66% se comparado o período de fevereiro de 2007 com o mesmo mês de 2008.

O preço da farinha e das massas aumentou 20% nos últimos 12 meses, de acordo com Associação das Indústrias de Massas Alimentícias (Abima). E há expectativa de altas ainda maiores: o preço do pão francês e do macarrão devem subir entre 12% e 15% ainda este mês.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-S), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgado na última terça-feira, confirmou mais uma vez, o aumento no preço dos alimentos: as hortaliças e os legumes subiram de 6,23% para 8,94%, as frutas foram de 3,23% para 4,36%. O tomate, por exemplo, registrou alta de 40,89%.

Os especialistas dizem que o motivo é o aumento do consumo, que só no Estado do Rio de Janeiro cresceu 8,94% em fevereiro, ante o mesmo período de 2007. Ou seja, é a lei básica da oferta e da procura: se as pessoas comem mais, a oferta fica menor e os preços disparam.

"Isso reflete o quanto a economia melhorou em termos de renda e emprego. Mesmo com a expansão do crédito, a inadimplência caiu", explicou o economista da Fecomércio, Christian Travassos. Segundo ele, o percentual de famílias da Região Metropolitana do Rio de Janeiro com contas em atraso era de 22,2%, em fevereiro de 2007, ante os 19,1% no mesmo mês deste ano.

A alta do preço dos alimentos está ocorrendo no mundo inteiro e há uma série de motivos para que isso aconteça, dentre eles o aquecimento global, foi o que explicou o economista.

"As mudanças climáticas estão acontecendo com maior freqüência. Causam seca de um lado, excesso de chuvas de outro, e no fim das contas os produtores têm prejuízos. Quando a oferta é afetada, a conseqüência é sempre o aumento de preços", disse.

No caso do feijão, há ainda outras razões que agravaram o aumento de preço.
"O feijão é produzido por pequenos produtores espalhados pelo Brasil. Como seu preço estava muito baixo, os produtores acabam migrando para o cultivo de outras culturas mais lucrativas, como a soja, por exemplo", elucidou.

Para o diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Roberto Verttemati, o crescimento de países como Índia e China também tem papel importante na alta dos preços dos alimentos.

"Se somarmos a população desses dois países temos cerca de 2,5 bilhões de pessoas. Eles estão importando arroz, soja, milho, etc. Mesmo com o aumento da produção mundial desses itens, não foi possível compensar a demanda", disse Verttemati.

Além disso, as culturas gastronômicas desses países quase não incluíam carne bovina e, de uns tempos para cá, passaram a integrar a cesta de alimentação desses povos. Só que, para se produzir mais carne, precisa-se de mais bois e também de mais ração – que é composta por grãos.

Desvio – Na última segunda-feira, o diretor de Direito à Alimentação da Organização das Nações Unidas (ONU), o suíço Jean Ziegler, classificou a produção de biocombustíveis como "crime contra a humanidade". Embora haja controvérsias com relação a esse assunto, não dá para negar o fato de que os alimentos estão sendo desviados para a produção de energia alternativa, principalmente nos Estados Unidos, que estão utilizando milho na produção de biodiesel.

Até pouco tempo atrás, o preço do petróleo estava em US$ 40 (cerca de R$ 67) o barril. Na sexta-feira já havia ultrapassado US$ 100 (R$ 168). Isso fez com que as fontes alternativas de energia se tornassem economicamente viáveis, explicou o economista do IBMEC, Gilberto Braga:

"Isso acaba gerando aumento de preços generalizados a nível internacional".

Pão sobe atrelado ao trigo

O aumento do consumo dos países pertencentes aos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) tornou o mercado de comodities (matérias-primas) aquecido no mundo inteiro. Cerca de 70% do trigo consumido no Brasil é importado da Argentina. Há poucas semanas, o governo de Cristina Kirchner criou um imposto sobre o trigo, que terminou por refletir no preço final do produto.

"Mesmo assim, o trigo portenho – que não tem incidência da Tarifa Externa Comum (TEC), por conta de leis tarifárias do Mercosul – ainda é mais barato que o importado de outros grandes produtores, como Estados Unidos e Canadá – que tem alto custo de frete por conta da distância", disse o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias (Abima), Carlos Zanão.

Nesse caso, não há para onde correr. O preço da matéria-prima será repassada para o valor final e chegará ao consumidor mais caro. Portanto, pães, massas e biscoitos ficarão mais caros. E ainda, mesmo que o Brasil queira aumentar a produção, existe uma limitação geográfica.

"Para plantar trigo em larga escala, com eficiência econômica, precisa-se de regiões frias, como o Sul do Brasil, por exemplo".

Segundo pesquisa do economista Gilberto Braga, o quilograma do pão francês custa hoje, em média, R$ 8,80 (cerca de R$ 0,40 a unidade), ante os R$ 8 que custava no inicio deste mês. Isto é, houve um aumento de 10% em cerca de 15 dias.

"Quem comprava 1 kg de pão francês no inicio de abril, levava em média 20 unidades para casa. Com esse aumento, o consumidor estará levando 18 pães. Caso haja o aumento de mais 12%, o quilograma passará a custar R$ 9,86 – beirando os R$ 10. Nesse caso, esse mesmo consumidor levará 16 pãezinhos para a casa, ou seja quatro a menos do que no inicio do mês", explicou Braga.

O economista do IBMEC aconselhou os consumidores que quiserem economizar a fazer pão de batata ou de aipim, que eram até mesmo considerados sofisticados e podem ser feitos com esses outros insumos.

Arroz e feijão são dupla que resiste

O comerciante do Ceasa de São Gonçalo, Fábio do Nascimento, de 26 anos, contou que pagava cerca de R$ 50 em uma saca de 30 kg de feijão, em dezembro do ano passado. Este ano ele está gastando R$ 80 para adquirir o mesmo produto.

"O preço subiu muito. Felizmente, o brasileiro não tira o feijão da mesa e, mesmo com essa alta, as pessoas continuam comprando", diz.

Ainda de acordo com ele, a saca do arroz custava R$ 30 em março e agora já está quase chegando a R$ 50.

"Como sabia que o preço iria aumentar, resolvi fazer estoque. E agora estou tendo lucro", comemorou o comerciante.


O Fluminense

Nenhum comentário: